quarta-feira, 2 de maio de 2012

Corpo de potiguar desaparecido na ditadura foi incinerado

Quase 40 anos depois, é revelado que fim levou o corpo do potiguar e dirigente do PCB, Luiz Inácio Maranhão Filho. Em um livro inédito e que promete estremecer além de lançar luz sobre os porões da ditadura, o delegado Cláudio Guerra revela que Luiz, além de barbaramente torturado, teve o corpo incinerado numa usina de açúcar no Estado do Rio de Janeiro.

“Em determinado momento da guerra contra os adversários do regime passamos a discutir o que fazer com os corpos dos eliminados na luta clandestina. Estávamos no final de 1973. Precisávamos ter um plano. Embora a imprensa estivesse sob censura, havia resistência interna e no exterior contra os atos clandestinos, a tortura e as mortes", diz o delegado em trecho do livro "Memórias de uma guerra de suja", da editorda Topbook, que ainda não foi lançado.


Cláudio Guerra revelou a amizade com o dono da usina para seus superiores: o coronel da cavalaria do Exército Freddie Perdigão Pereira, que trabalhava para o Serviço Nacional de Informações (SNI), e o comandante da Marinha Antônio Vieira, que atuava no Centro de Informações da Marinha (Cenimar). Afirma que levou, então, os dois comandantes até a fazenda:

“O local foi aprovado. O forno da usina era enorme. Ideal para transformar em cinzas qualquer vestígio humano. A usina passou, em contrapartida, a receber benefícios dos militares pelos bons serviços prestados. Era um período de dificuldade econômica e os usineiros da região estavam pendurados em dívidas. Mas o pessoal da Cambahyba, não. Eles tinham acesso fácil a financiamentos e outros benefícios que o Estado poderia prestar", diz outro trecho publicado pelo portal iG.

Luiz Maranhão foi preso no dia 03 de abril de 1974 numa praça em São Paulo, capital. Pessoas que presenciaram a cena, informam que ele foi algemado e conduzido num transporte de presos pelos agentes do DOI-CODI do II Exército.

A ditadura militar jamais reconheceu a prisão do militante político; foi incluído no rol dos desaparecidos. Sua esposa denunciou, através do Secretário Geral do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), deputado Thales Ramalho, que Luiz estava sendo torturado em São Paulo pelo famigerado assassino Sergio Fleury.

Em 15 de maio de 1974, o vice-líder da ARENA, Deputado Garcia Neto prometia "que o governo tomaria providências para elucidar os sequestros de presos políticos, inclusive de Luiz Maranhão Filho". Providências nunca encaminhadas. Em 08 de abril de 1987, o ex-médico e torturador Amilcar Lobo revelou, em entrevista à Revista IstoÉ, que viu Luiz sendo torturado no DOI-CODI do I Exército no Rio de Janeiro.

Em 1993 o ex-agente do DOI-CODI, Marival Chaves, em entrevista à Revista Veja, disse que Luiz fora trucidado pelos órgãos de segurança da ditadura militar; seu corpo nunca foi localizado.

Luiz foi advogado, professor do Atheneu Norteriograndense, da Fundação José Augusto e da Universidade Federal do RN. Jornalista, colaborou com diversos jornais do Estado, particularmente com o Diário de Natal.

Escreveu vários artigos sobre questões candentes da realidade para a Revista da Civilização Brasileira. Membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), tendo sido eleito para o seu Comitê Central no VI Congresso do partido em 1967, conforme relata sua página no portal Direitos Humanos.

Preso em 1952 pela Aeronáutica em Parnamirim, foi brutalmente torturado, constituindo essa saga vivida por Luiz, um capítulo do livro A História Militar do Brasil, de Nélson Werneck Sodré.

Cláudio Guerra revelou, além de Luiz, os seguintes nomes:
-- João Batista e Joaquim Pires Cerveira, presos na Argentina pela equipe do delegado Fleury;
-- Ana Rosa Kucinsk e Wilson Silva, “a mulher apresentava marcas de mordidas pelo corpo, talvez por ter sido violentada sexualmente, e o jovem não tinha as unhas da mão direita”;
-- David Capistrano (“lhe haviam arrancado a mão direita”) , João Massena Mello, José Roman, dirigentes históricos do PCB;
-- Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira e Eduardo Collier Filho, militantes da Ação Popular Marxista Leninista (APML).


Com informações do Portal Nominuto

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