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quarta-feira, 7 de março de 2012

As 15 perguntas que podem fazer o candidato engasgar na entrevista

Para quem está desempregado por um grande período ou para aqueles profissionais que buscam uma mudança na carreira, conseguir uma entrevista de emprego pode ser considerada uma vitória. Mas é preciso estar atento às perguntas, principalmente àquelas com duplo sentido, para não cair em “pegadinhas” e não engasgar na hora de falar. É dessa temática que trata a segunda reportagem da série do Boa Chance sobre entrevistas de emprego.

— Do outro lado da mesa, gerentes de RH passam horas e mais horas entrevistando um candidato atrás do outro. E uma pergunta complicada pode ser usada como ferramenta para economizar tempo, eliminar rapidinho um candidato menos qualificado ou descobrir que tipo de profissional você realmente é — diz Joyce Lain Kennedy, autora de coluna sobre carreira e do livro “Job interviews for dummies”, em artigo publicado pelo site da revista Forbes.

Segundo Joyce, é importante saber ler nas entrelinhas e se preparar bem para não queimar o seu filme e ser eliminado de cara da seleção. Levando isso em conta, o Boa Chance elegeu 15 perguntas difíceis de responder listadas pelos sites da Forbes e da Monster França. Confira, abaixo, quais são elas e a melhor forma de respondê-las, segundo os especialistas:

"Fale um pouco sobre você"

Os primeiros segundos podem ser determinantes para um recrutador formar uma opinião sobre a motivação real de um candidato a partir dessa pergunta. O ideal é responder de forma persuasiva e concisa, pois um discurso longo corre o risco de entediar o interlocutor. É o momento para demonstrar que você é a pessoa que melhor corresponde às expectativas do empregador por causa de seus valores, experiências, motivação e capacidade de organização.

''Por que você está sem trabalho há tanto tempo, e quantos outros foram demitidos?''

Com esta pergunta, o entrevistador quer saber se há algo errado com você ou se as circunstâncias do mercado, como uma crise econômica e cortes no orçamento, afetaram outros funcionários também ou só você foi demitido. Em vez de responder à pergunta diretamente, e arriscando uma resposta emocional, e ser mal interpretado, diga que sempre deu o máximo para o bom desenvolvimento do trabalho, não se importando de fazer horas extras, mesmo que não tenha recebido a mais por isso.

''Se você está empregado, como você consegue tempo para as entrevistas?''

Na verdade, o entrevistador está querendo saber se você está mentindo para o seu atual chefe, enquanto procura outro trabalho, e que, futuramente, poderia enganar o seu novo empregador também. Nessa hora, o melhor é enfatizar que está particularmente interessado na vaga oferecida e que está usando um tempo de folga para participar da entrevista.

''Como você se preparou para esta entrevista? ''

A intenção desta pergunta é decifrar o quanto você realmente se interessa pelo emprego ou se você está simplesmente indo na onda e improvisando. Mostre que fez o dever de casa, pesquisando sobre a empresa e seu negócio, nem que seja no próprio site da companhia. Revele o seu conhecimento sobre a indústria, empresa ou departamento, fazendo perguntas e comentando o desempenho recente da organização.

"Como você trabalha sob pressão?"

O recomendado é mostrar que o estresse não é um problema e que faz parte do trabalho. Se possível, ilustre com situações já vivenciadas em que precisou atuar sob pressão. Pode pontuar que a pressão pode servir também como um combustível para agir de maneira ainda mais eficaz, mas diga também de que maneira procura compensar isso e como busca relaxar após uma situação estressante.

''Você conhece alguém que trabalha para nós? ''

Este realmente é uma pergunta complicada, porque a maioria dos entrevistados acredita que conhecer alguém dentro da empresa conta pontos no processo de seleção. Nada melhor do que um amigo entregar diretamente seu currículo no RH ou ao gestor da vaga, certo? Mas, antes de tudo, é importante saber se o seu contato tem uma imagem positiva dentro da empresa. Como o entrevistador provavelmente vai associar características do amigo e sua reputação com os seus méritos, é recomendável que apenas mencione o seu nome e torça que ele seja bem-visto junto aos colegas e à chefia.

"Como se vê daqui a cinco anos?"

Demonstre que tem um plano de carreira, que deseja progredir e que consegue, sim, projetar seu futuro próximo. A ambição, desde que não demonstrada de forma excessiva, costuma ser bem-vista pelos recrutadores. É recomendável também explicitar conhecimento acerca da realidade atual de trabalho (alta rotatividade, instabilidade econômica etc.) e deixe clara a sua capacidade para se adaptar a um cenário de mudanças.

"Você prefere trabalhar sozinho ou em equipe?"

É claro que essa resposta vai depender da vaga, mas, de forma geral, preferir a solidão não causa boa impressão. Hoje em dia, o trabalho colaborativo que é bem visto. O recrutador deseja conhecer sua capacidade de adaptação como líder ou membro de uma equipe. Procure usar exemplos em que foi bem sucedido nesse campo, mesmo que sejam fora da vida profissional, como em atividades esportivas, culturais ou voluntárias.

''Onde é que você realmente gostaria de trabalhar?''

O que o entrevistador quer saber é se você está aberto a qualquer oportunidade que possa aparecer. Por isso, não se deve mencionar outra empresa ou cargo em vista, já que o objetivo é destacar todas as competências e razões que o tornam perfeito para a vaga, e que você vai se dedicar ao máximo caso consiga o emprego. A melhor resposta é: “Aqui é onde eu quero trabalhar, e esse trabalho é o que eu quero fazer”.

"Como você organiza o seu tempo?"

Dê exemplos concretos que comprovem a sua organização e o fato de que você não costuma deixar trabalho acumulado. Se for o caso, pode até contar, de forma resumida, um dia de trabalho típico, mostrando como faz para executar todas as tarefas diárias.

''O que mais te incomoda em relação a colegas ou patrões?''

Cuidado para não cair nesta armadilha. Profissionais de RH podem utilizar esta pergunta para destrinchar se você vai ter dificuldade para trabalhar em equipe ou criar um clima, prejudicando o moral e a produtividade do seu setor de trabalho. Pense um pouco, diga que não lembra de nenhum caso em particular e elogie chefes e colegas. Isso irá revelar a sua visão positiva e seu autocontrole, e como você vai lidar com as dinâmicas sociais na nova empresa.

''Você pode descrever uma situação no trabalho ou na escola em que você estragou tudo?''

O objetivo, neste caso, é saber se você costuma repetir os mesmos erros e se é capaz de reconhecê-los e assumir a responsabilidade por suas falhas. A melhor maneira de responder é mencionar um único caso, de forma descontraída e sem entrar em detalhes, mas enfatizando que tenta não repetir os mesmo erros e que aprendeu a lição com a experiência .

"Você pretende ter filhos?"

É comum a questão do bebê aparecer para jovens mulheres, de maneira mais ou menos sutil. O recomendado é explicar que um filho não faz parte de seus planos no curto prazo. Depois de contratada, as coisas poderão evoluir, uma vez que você já terá demonstrado suas habilidades para o cargo. Se a candidata já tem filhos e a questão da disponibilidade de tempo é colocada como crucial, ressalte sua capacidade de se organizar e o fato de que, até o momento, conseguiu conciliar bem vida profissional e familiar.

"O que você achou da nossa entrevista?"

Nessa hora, procure evitar fazer comentários muito elogiosos. Responda que a entrevista foi interessante e diga o porquê. Insista na forma profissional como a entrevista foi conduzida e demonstre que houve uma troca muito positiva. Pode terminar dizendo que a qualidade da entrevista, caso realmente tenha sido boa, contribui para dar mais vontade de se juntar à empresa.

''Se você ganhasse na loteria, você continuaria trabalhando?''

Esta é uma outra oportunidade de ressaltar sua motivação e ética no trabalho. Embora a possibilidade de ganhar na loteria deixe qualquer um feliz, é hora de mostrar que não desistiu de sua vida profissional e está aberto a novos desafios.

Da Agência O Globo

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Santo Antônio/RN: Entrevista com o cordelista Marciano Medeiros

Marciano Batista de Medeiros nasceu em Santo Antônio/RN, aos 18 de setembro de 1973. É filho de João Batista de Medeiros e Francisca Viana Salustino Medeiros. Publicou vários folhetos de cordel e inúmeros perfis biográficos de ilustres personalidades que fazem parte da história do Rio Grande do Norte. Marciano declara ser admirador da obra deixada pelo maior cordelista de todos os tempos, o vate paraibano Leandro Gomes de Barros. Recentemente o poeta ficou em quarto lugar, num concurso de cordel promovido pelo Centro de Tradições Nordestinas, sediado no Estado de São Paulo. O autor é o mais jovem imortal da Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel-ANLIC, ocupando a cadeira de número 31, cujo patrono é Luiz Felipe Nerís. 

Entrevista concedida ao jornalista Joaquim Pinheiro 

O que representa a criação da Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel? 
Foi uma grande e memorável aquisição, para os persistentes e audaciosos cordelistas potiguares. Finalmente o sonho acalentado pelo pesquisador Gutenberg Costa foi materializado, naturalmente com apoio de valorosos companheiros, que muito contribuíram na organização da Academia. Foram muitas as reuniões acontecidas, inicialmente na Casa do Cordel, para que as decisões fossem tomadas de modo democrático. Após debaterem exaustivamente, organizaram todos os trâmites burocráticos e a Academia tornou-se uma realidade. 

A atividade cordelista tem sido reconhecida pelas autoridades do Estado e do município? 
Sem querer ofender ninguém, observo atitudes isoladas por parte dos representantes do Estado. Quando o poeta tem um nome feito, no sentindo da divulgação de sua obra, aparecem alguns projetos e iniciativas interessantes. Agora quando estamos na fase inicial, fica mais difícil receber apoio, por parte das autoridades que dizem nos representar. 

O que está faltando para que isso aconteça? 
Falta sensibilidade e algumas iniciativas simples. A produção de um folheto de cordel com oito páginas, numa tiragem de mil exemplares, sai em média por 200 reais, uma quantia irrisória, para o orçamento de qualquer prefeitura. Os municípios poderiam promover concursos de cordel, premiando até os terceiros lugares e publicando os dez melhores trabalhos. Observo também que poderiam criar fundações de cultura, com gráficas que realmente funcionassem, sem aquela velha e repetida história, do tem mais tá faltando. 

O cordel precisa ser mais divulgado nas escolas públicas, por exemplo? 
Com toda certeza. Nossos estudantes precisam conhecer cada vez mais, tão bela manifestação da cultura nordestina. O cordel desde quando saiu da Península Ibérica, ganhou características incomuns no território sertanejo. Existe uma emocionante magia, que deriva para uma forte comoção, quando escutamos a leitura dum romance falando a respeito de Lampião, ou do bravo Antônio Silvino. Devo relembrar também, as grandes obras do mestre Leandro Gomes de Barros e de José Camelo de Rezende, que permanecem como modelos clássicos, até hoje não superados. Autores a exemplo dos que citei e muitos outros, devem ser conhecidos pelas novas gerações. Para uma melhor e efetiva divulgação, nossas autoridades deveriam reeditar os grandes romances da literatura cordel. 

O Rio Grande do Norte conta com grandes cordelistas? Cite alguns nomes para exemplificar? 
O Estado potiguar tem uma particularidade incomum, a maior produção de folhetos inéditos do Brasil. Trabalhos versando sobre traição conjugal, sobre biologia, biografias e muitos outros temas, são abordados pelos poetas e poetisas do Rio Grande do Norte. A Casa do Cordel divulga vários destes trabalhos, numa atitude corajosa e pioneira, fazendo muito para divulgar o autor iniciante. Tal instituição fica na Rua Vigário Bartolomeu, pertinho da prefeitura de Natal. Nossos grandes poetas? Temos muitos, a começar por José Saldanha, falecido recentemente, que dedicou sua vida ao cordel. Depois posso mencionar Manoel Justino, Antônio Francisco, Paulo Varela, Crispiniano Neto, Rosa Régis, Xexéu, José Acaci, Isaias, Abaeté, Hélio Gomes, Manoel Silva, Os Macedo, Américo Pita, Marcos Medeiros, Boquinha de Mel, Francisco Queiroz e muitos outros que poderiam ser citados, porém pela exiguidade do espaço nessa entrevista, tenho que resumi-los nos representativos nomes que acabei de mencionar. 

Existe correlação do cordel com a viola? 
Existe sim. Toda cantoria de viola é a iniciada com uma “sextilha,” o gênero mais usado na elaboração dos folhetos de cordel. Os cantadores de viola são nossos “primos”, profissionalmente falando, e também nossos excelentes professores. Aquele que se dedica a escrever o folheto de cordel, não perde nada ouvindo um bom cantador de viola. 

A novela Cordel Encantado deu mais visibilidade a atividade cordelista? 
Já ouvi alguns protestos dizendo que não. Pessoalmente acho que sim, pois muitos amigos me diziam: “Lembrei de você assistindo a novela Cordel Encantado.” Pra quem não é do Nordeste, as autoras Thelma Guedes e Duca Rachid, deram um show de bola, unificando os enredos clássicos do cordel, aos maravilhosos elementos dos contos de fadas. O resultado foi excelente, confirmado na audiência que a novela tinha, prendendo até a atenção dos homens, que viramos noveleiros assumidos, debatendo acaloradamente as cenas da novela, com nossos familiares e os amigos, logo após a exibição dos capítulos. Naturalmente a novela não poderia falar só sobre cordel e mesmo de forma resumida, levou parte da nossa cultura para todas as regiões do Brasil. 

Recentemente você foi empossado na Academia Norte-rio-grandense de Literatura de cordel. Como recebeu essa honraria e o que é que isso representa para você? 
Fiquei emocionado e feliz por tão valoroso e importante reconhecimento, conforme já pude externar ao professor Marcos Medeiros, que me indicou para integrar a recém-criada instituição e a todos os demais colegas que apoiaram meu nome para poder fazer parte desta Academia. Desejo a presidenta Rosa Régis e ao seu vice, Hélio Gomes da Silva, muito sucesso nessa grande e mosaica jornada, que é a unificação dos cordelistas em terras potiguares.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Paulo Henrique Amorim entrevista ex-jogador e Dep. Federal Romário

No Entrevista Record Atualidade, o ex-jogador e deputado federal comenta polêmicas da carreira no futebol, a atuação no Congresso Nacional e a sua mais nova função: comentarista da Record no Pan. Veja a entrevista exclusiva na íntegra!




Fonte: Record News

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Entrevista da Presidenta Dilma ao programa Hoje em Dia da Record

Em um café da manhã especial na manhã desta quinta-feira (29), em Brasília, a presidente conversou com os apresentadores do Hoje em Dia. Veja na íntegra a entrevista exclusiva.


Fonte: Portal R7

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Patricia Poeta entrevista Dilma Rousseff

Na manhã desta quinta-feira (8), a apresentadora do Fantástico Patricia Poeta esteve em Brasília e conversou com Dilma Rousseff, no Palácio da Alvorada, a residência oficial da presidente.

A entrevista foi feita em duas partes. De manhã, Patrícia foi ao Palácio da Alvorada, residência oficial da presidente, para conhecer a intimidade de Dilma. Elas passaram por alguns dos cômodos do palácio para que a presidente contasse como é a sua rotina em casa, onde mora com a mãe e uma tia. Vestida com um paletó clássico, de tecido leve e claro, penteada e maquiada com discrição, Dilma Rousseff falou sobre questões pessoais com a mesma naturalidade com que abordou temas da política e da economia.

Na segunda parte da entrevista, as duas foram para o Palácio do Planalto, onde a conversa ganhou um tom mais sério. Dilma explicou para a apresentadora sua rotina de trabalho e falou sobre assuntos de governo e seus planos para o Brasil. Sem fugir dos assuntos, a presidente falou sobre a crise econômica mundial, os escândalos de corrupção e o relacionamento com o Congresso. Em uma conversa intimista, Poeta perguntou a Dilma sobre sua fama de durona. A presidente riu e disse que é assertiva, mas confessou que às vezes é preciso chamar a atenção das pessoas que trabalham em sua equipe: “Bronca faz parte, mas é uma bronca meiga”, garante Dilma, em tom de brincadeira.


Confira as duas partes da entrevista.



Fonte: Portal G1 e Youtube

Record contra-ataca revista Veja no Domingo Espetacular

O Domingo Espetacular dedicou quase 15 minutos da edição do último domingo, 11, para se defender de acusações feitas pela Veja. A Record exibiu reportagem em que chama a publicação de mentirosa, com direito a entrevista de Edir Macedo. A revista veiculou que a emissora passava por uma crise.

A coluna da semanal "Panorama Holofote", de Otávio Cabral, apontou uma suposta queda de audiência, “atraso no pagamento de funcionários e cenário de guerra no complexo da Barra Funda."

Confira a reportagem do Domingo Espetacular.


Fonte: Portal R7 e Youtube 

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Deputado Romário entrevista o Jornalista Andrew Jennings, famoso por denunciar a corrupção na FIFA e desafeto declarado do presidente da CBF

O jornalista escocês Andrew Jennings é repórter investigativo há 30 anos e comanda um programa de grande audiência na TV inglesa BBC. Depois de investigar a máfia italiana, a corrupção na Scotland Yard (policia inglesa), há 13 anos comprou uma guerra com a poderosa Federação Internacional de Futebol (FIFA). Passou, então, a ser o principal inimigo dos dirigentes esportivos internacionais.

Descobriu, entre outras coisas, que as eleições internas são compradas, há manipulação de resultados de jogos e negociatas para a escolha de países-sedes da Copa do Mundo. Reuniu tudo no livro, recém-lançado no Brasil: Jogo Sujo, o Mundo Secreto da FIFA. “São negócios que fariam corar a máfia italiana”, afirmou Jennings.

Leia a entrevista na íntegra:

Romário - Há quanto tempo você vem investigando a corrupção no esporte?
 
Andrew Jennings - Eu tenho sido um repórter investigativo há 40 anos e 20 anos atrás eu estava investigando a máfia de Palermo e as suas operações na Europa, Reino Unido e América do Norte. Um dia, durante as filmagens em Palermo, fiquei frente a frente com um mafioso muito irritado, que nos mandou parar de filmar. Esta experiência e entendimento de como as famílias do crime organizado operam foi o treinamento perfeito para o próximo alvo - as federações esportivas internacionais. Eu pensei que este trabalho não iria durar muito tempo. Vinte anos depois ainda estou desenterrando evidências de corrupção - especialmente na FIFA! Não tenho dúvidas de que a FIFA é uma família do crime organizado e que Blatter (presidente da FIFA) mantém a sua influência distribuindo fartamente ingressos da Copa do Mundo.
 
Romário - Por que está tão interessado em Ricardo Teixeira, na CBF e no envolvimento deles na Copa do Mundo de 2014?
 
Andrew Jennings - Qualquer fã - ou repórter - tem de estar interessado em quem está hospedando a próxima Copa do Mundo e como os preparativos estão indo. Após a corrupção na África do Sul quando tantos estádios de futebol desnecessários foram construídos - e os lucros que foram para políticos e empreiteiros corruptos – o Brasil, que ainda tem de superar a pobreza, será analisado pelo resto do mundo. Globalmente, não há confiança na CBF. Há também pouca confiança nas demonstrações freqüentes do secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, de que o Brasil não está se preparando rápido o suficiente. Se isso é verdade ou não, de qualquer maneira, observadores internacionais notam a relação calorosa entre Teixeira e Valcke.O Brasil precisa resistir à pressão da FIFA.Estou certo de que nos últimos anos, Blatter prometeu a Teixeira que o brasileiro seria o próximo presidente da Fifa. Mas com os dois envolvidos em tantos escândalos, isso é menos provável.
 
Romário - Quem é Ricardo Teixeira, no contexto do futebol internacional?
 
Andrew Jennings - Poucos fãs fora do Brasil não reconheceriam Teixeira na rua. Aqueles que o conhecem veem um homem que se tornou rico e poderoso explorando o futebol brasileiro e a FIFA. As notícias internacionais expõem histórias sobre seu envolvimento em contratos duvidosos da Copa do Mundo.Teixeira está permanentemente envergonhado pelo relatório Dias de 2001 (refere-se ao relatório elaborado pelo senador Álvaro Dias durante a CPI do Futebol), que foi relatado internacionalmente."Tricky Ricky ' o apelido de Ricardo Teixeira, está agora se espalhando ao redor do mundo.
 
Romário - Como o Brasil conquistou o direito de sediar a Copa do Mundo de 2014?
 
Andrew Jennings - Blatter, o poderoso chefão da mafia, tem que manter seus Sub-Chefes ao redor do mundo felizes. Ricardo queria sua própria Copa do Mundo para saquear. A melhor maneira de Blatter mantê-lo fiel era deixá-lo organizar a Copa de 2014. Depois que a África do Sul foi roubada em 2000, quando perdeu a sede da Copa do Mundo de 2006 - subornos foram pagos em nome da Alemanha – a África ficou furiosa. Blatter apressadamente introduziu a idéia de girar a Copa do Mundo entre os continentes. Em seguida, a África do Sul conseguiu sediar o evento em 2010 e 2014 foi prometida à América do Sul. Vocês (brasileiros) têm que descobrir que negócios foram feitos secretamente entre Teixeira e o resto dos países que formam o Comnebol.
 
Romário - Você se refere aos segredos em Zug? O que é essa história?
 
Andrew Jennings - Este é o grande escândalo da FIFA, maior do que qualquer outro que a instituição já se envolveu. Um verdadeiro espectro que tem assombrado Blatter, Teixeira e João Havelange na última década. Nas duas décadas passadas foram pagos grandes subornos por uma empresa suíça de marketing esportivo em retorno por terem sido concedidos contratos lucrativos para a Copa do Mundo FIFA. Essa empresa, ISL, foi à falência no início de 2001 e os gângsters na FIFA têm tentado desesperadamente, desde então, minar as investigações realizadas por promotores criminais.
 
Romário - Que tipo de suborno estamos falando?
 
Andrew Jennings - Sentei em um tribunal suíço em março de 2008 e ouvi um juiz revelar que a ISL havia pago cerca de US$ 100 milhões em subornos para obter os seus contratos. Os repórteres no tribunal ficaram surpresos com o valor. $ 100 milhões em subornos! Esta seria a maior história de corrupção na história da FIFA - e talvez do esporte mundial.
 
Romário - E as investigações continuaram?
 
Andrew Jennings - Esse caso tratava como os administradores da ISL tinham se comportado mal. As investigações da polícia continuaram em relação aos subornos e o caso foi resolvido fora do tribunal, no verão do ano passado - o anúncio foi feito durante a Copa do Mundo na África do Sul e teve pouca atenção. A declaração formal do procurador em Zug disse: juiz de instrução Thomas Hildbrand, em agosto de 2008, começou uma investigação sobre alegações de que certos membros do Comitê Executivo da FIFA receberam propina em contratos de marketing. Após cinco anos de investigações os acusados concordaram em pagar CHF5.5million e o caso foi encerrado."
 
Romário - O que isso significa, em poucas palavras?
 
Andrew Jennings - Os três alvos da investigação tinham que confessar que sabiam sobre os subornos e que dois deles tinham aceitado propinas. Pagaram uma parte do dinheiro e, assim, garantiram o sigilo de suas identidades. Essa é a maneira suíça judicial de resolução de alguns casos criminais.
 
Romário - E a história acabou?
 
Andrew Jennings - Certamente que não. Nosso dever como jornalistas da BBC foi para descobrir quem havia admitido tomar o suborno. Sentimos que o mundo tinha o direito de saber.
 
Romário - Então o que você fez?
 
Andrew Jennings - Como todo repórter faz, nós fizemos inquéritos confidenciais na Suíça e soubemos muito mais. Assim, em 23 de maio deste ano eu apresentei um programa Panorama BBC no qual dei o nome do Ricardo Teixeira e do João Havelange como os dois funcionários da FIFA que haviam admitido ter recebido subornos. Eu também denunciei a FIFA - e aqui nós só podemos estar falando de Blatter - admitindo que o dinheiro devido à FIFA, da ISL, tinha sido desviado em subornos.
 
Romário - Você tem sido justo com Ricardo Teixeira?
 
Andrew Jennings - É claro. A BBC insiste que qualquer pessoa denunciada em um programa tem tempo suficiente para responder às acusações e nos conceder uma entrevista. Para ambos os programas nos quais citamos Teixeira - novembro do ano passado e maio deste ano - enviamos dois e-mails cada vez, informando-o das nossas alegações e convidando-o a participar do programa para contar o seu lado da história.
 
Romário - Como ele reagiu?
 
Andrew Jennings - Ele nunca respondeu. Ele ignorou e não aproveitou a oportunidade para negar qualquer coisa. Ao contrário, ele atacou a BBC e o jornalismo britânico como "corruptos. 'Isso não é resposta para denúncias tão sérias e graves que estão documentadas.Quais são os documentos que você tem para provar que Teixeira - e Havelange - aceitaram suborno? Para o nosso programa em novembro do ano passado consegui uma lista de 165 subornos pagos pela ISL a à maioria dos funcionários da FIFA - os US $ 100 milhões. Nós mostramos a lista na TV - destacando os nomes de Teixeira e Havelange. Nós também temos mais evidências de que Teixeira tinha aceitado cerca de US$ 10 milhões por meio de uma empresa chamada Liectenstein Sanud.
 
Romário - Por que foi tão importante?
 
Andrew Jennings - No relatório do senador Alvaro Dias, de 2001, sobre a corrupção na CBF, o parlamentar brasileiro identificou esta empresa estrangeira (Sanud) como sendo a fonte de dinheiro que foi para Teixeira. Mas ele não conseguiu descobrir e rastrear onde Sanud conseguiu o dinheiro. Mas nós encontramos - muitas vezes - na lista de propinas pagas pela empresa ISL. Assim, o dinheiro era lavado da Suíça para Liechtenstein e depois para o Brasil. Continua sendo uma decepção que o Ministério Público brasileiro não tenha agido sobre o as revelações do relatório apresentado pelo senador Álvaro Dias.
 
Romário - O que pode acontecer agora?
 
Andrew Jennings - Investigamos e descobrimos que na lei suíça, é possível obter o relatório secreto da polícia revelando quem recebeu o suborno. Agora temos de convencer um tribunal suíço que é de interesse público a divulgação desta evidência. Isso vai acontecer - há um precedente legal importante.
 
Romário - O que você está fazendo para provar que Teixeira é um dos que aceitaram suborno?
 
Andrew Jennings - A BBC e alguns meios de comunicação suíços - e eu acredito que um jornal brasileiro - começaram um processo judicial formal na Suíça. O Ministério Público em Zug diz que está preparado para divulgar as provas, mas ele está sendo contestado pelos homens acusados. Eles (os acusados) estão gastando grandes somas com advogados suíços para argumentar contra a publicação desta informação.Parte do processo é que nos são dadas cópias das razões pelas quais a publicação está sendo bloqueada. Os advogados suíços dizem que seus clientes sofreriam "cobertura negativa da imprensa." Sua reputação seria "danificado irreparavelmente." Eles podem até sofrer 'roubo ou seqüestro. "Estas cartas, judicialmente legais, identificam a FIFA, mas os outros dois homens são chamados de B2 e Z . A partir das descrições dadas temos evidências adicionais de que eles são Ricardo Teixeira e João Havelange.
 
Romário - Quanto tempo levará para o relatório secreto ser revelado?
 
Andrew Jennings - Pode demorar até 12 meses. O tribunal de Zug nos apoiou em 24 de maio, e agora os bandidos estão apelando para a próxima esfera. Eventualmente, ele vai acabar no Supremo Tribunal de Lausanne e estamos confiantes de que vamos obter os documentos e os culpados serão expostos.
 
Romário - Qual é a importância disso? O último suborno foi pago no início de 2001?
 
Andrew Jennings - As implicações são enormes. FIFA e os dois brasileiros serão expostos como bandidos. O mundo vai aprender que o homem encarregado da Copa de 2014 é corrupto. O dano à reputação do Brasil será imensa.
 
Romário - O que o Congresso do Brasil e o governo brasileiro devem fazer?
 
Andrew Jennings - É o momento para a presidente Dilma Rousseff tomar medidas para encerrar este escândalo. Meu conselho é que ela deve chamar Teixeira e dizer: 'Por favor, venha ao meu escritório - e traga todo o processo que corre na Suíça com você. Eu quero ver esse relatório secreto e toda a correspondência na qual você está tentando bloquear da divulgação da mídia de alguma coisa de que você está sendo acusado de ter feito. "
 
Romário - E se ele se recusar?
 
Andrew Jennings - Então ele deve ser despejado rapidamente de qualquer parte da organização de 2014. E deve ir com sua família e aliados. Uma faxina no Comitê Organizador Local. Há uma abundância de talento no Brasil para substituí-los e produzir um grande torneio com o orçamento disponível.
 
Romário - O que mais pode ser feito?
 
Andrew Jennings - O Congresso Nacional também deve pedir para ver estes documentos suíços. E o Governo, por meio do Ministério das Relações Exteriores, também deve requerer junto ao governo suíço que os documentos se tornem públicos. É do interesse nacional do Brasil saber o que está acontecendo.

Romário - Ricardo Teixeira afirma que a BBC é controlado pelo governo britânico.
 
Andrew Jennings - Isso é um absurdo e ele deve saber isso. A BBC é totalmente independente de qualquer governo. Você deve se lembrar que, quando estávamos preparando o nosso programa em novembro do ano passado, o primeiro-ministro britânico David Cameron nos atacou por causa dos danos que poderiamos causar à candidatura dele na Inglaterra. Ele pareceu não compreender que a Inglaterra não pagar subornos, nunca poderíamos vencer.
 
Romário - Mas Ricardo Teixeira também diz que seus programas na BBC que o identificam como corrupto representam uma vingança porque a Inglaterra perdeu a sede da Copa do Mundo de 2018?
 
Andrew Jennings - Isso é um absurdo. Fizemos nosso primeiro programa expondo a ISL subornos aos altos funcionários da FIFA em Junho de 2006! O segundo programa, sobre as propinas pagas pela Alemanha, foi exibido em 2007 e o primeiro a identificar Ricardo Teixeira foi transmitido em novembro passado, três dias antes da votação para 2018 e 2022. Nosso dever como livre e independentes jornalistas britânicos foi para avisar o que iria acontecer na votação. E assim foi. E, claro, nós fizemos esses programas para demonstrar para a Inglaterra e para o resto do mundo que a única maneira de ganhar o direito de sediar o torneio é pagar subornos.
 
Romário - Algo mais a acrescentar?
 
Andrew Jennings - Adoro visitar meus amigos no Brasil e estou ansioso para um grande torneio no Brasil, em 2014, com o Ricardo Teixeira fora da organização. E que todos os orçamentos sejam públicos - para evitar a corrupção. Assim teremos uma grande festa!
 
Fonte: www.romario.org

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Para juiz, legislação eleitoral é uma "colcha de retalhos"

Juiz titular do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte (TRE-RN), Fábio Hollanda defendeu o financiamento público exclusivo de campanhas eleitorais, disse que o atual modelo, um misto de doações públicas e privadas, causa "distorções muito danosas ao processo democrático" e lamentou as falhas do sistema eleitoral em vigor. "O sistema ainda é tão falho que, por exemplo, o presidente do PTB, [o ex-deputado federal] Roberto Jeferson, [réu e delator do esquema do mensalão no primeiro governo Lula] ficou inelegível, ou seja, sem a cidadania plena, por oito anos, e exerce a presidência de um partido político sendo, por consequência, gestor de recursos e interesses públicos", sublinhou o juiz. Em entrevista por e-mail ao portal Nominuto.com, o juiz disse só acreditar numa solução efetiva para as distorções do sistema de declaração de contas das campanhas eleitorais se houver "uma ampla reforma política e eleitoral, [com] voto em lista [partidária], financiamento exclusivamente público de campanha, democratização da vida partidária, modernização da lei orgânica dos partidos políticos e da Lei das Eleições". Fábio Hollanda pregou a convocação de uma constituinte exclusiva para discutir a reforma política e eleitoral, "dando um ponto final nessa verdadeira colcha de retalhos que virou a legislação eleitoral, dentre outras medidas". 

No início dessa legislatura, os senadores instalaram uma comissão para analisar propostas para a reforma política. Uma dessas propostas é o projeto de autoria do senador José Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado, que estabelece o financiamento público exclusivo de campanhas eleitorais. Pelo projeto nº 268/2011, o governo federal repassará ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em anos eleitorais, R$ 7,00 por eleitor para destinar aos partidos. Do total de recursos, aproximadamente R$ 1 bilhão, 5% seriam divididos igualmente entre todas as legendas existentes. Os outros 95% seriam repartidos de forma proporcional à votação obtida por cada partido na última eleição para a Câmara dos Deputados. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado adiou, pela segunda vez, a votação da proposta. A matéria, cujo relator é o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), só será votada em agosto, na volta do recesso parlamentar. Leia a seguir a íntegra da entrevista com o juiz Fábio Hollanda sobre reforma política e financiamento público de campanha:

Como o senhor avalia o modelo atual de financiamento das campanhas eleitorais no Brasil? 
Para mim existem distorções muito danosas ao processo democrático, dentre elas a falta de uma legislação constitucional e, tão importante quanto, infraconstitucional, que permitam o financiamento público de campanha, com todo o arcabouço jurídico necessário para tal. Até lá detecto quatro pontos que poderiam ser atacados: primeiro o fim das doações de pessoas jurídicas, independentemente da natureza jurídica de suas constituições; segundo, a obrigatoriedade de na prestação de contas parciais serem divulgados os doadores além dos valores doados por cada um; terceiro, o estabelecimento de um limite máximo para os gastos de campanha para cada cargo eletivo; e quarto, a previsão da perda do mandato para os candidatos eleitos e cujas contas forem rejeitadas e a inelegibilidade por quatro anos, a contar da data do trânsito em julgado, para eles e para os derrotados na mesma situação.

Esse sistema misto, com doações públicas e privadas, favorece a corrupção, como dizem seus críticos?
Eu sou a favor do financiamento público exclusivo, já que o mandato eletivo é um "munus" público. Como diz o eminente colega Magnus Delgado, política não é um "meio de vida", é muito mais uma vocação do que uma profissão ou uma capitania hereditária. Entendo que o financiamento de campanhas misto é a manutenção das discrepâncias atuais com a excrescência do uso de recursos públicos para pessoas físicas. Só acredito em financiamento público exclusivo com voto em lista, pois os recursos seriam passados aos partidos políticos, prevendo ser punível por improbidade administrativa o mau uso desses recursos, respondendo os dirigentes partidários e os benificiários diretos, os candidatos, todos na proporção de suas ações, além das consequências criminais, como peculato, por exemplo.

Para muitos, o sistema atual provoca desequilíbrio na disputa eleitoral, porque favorece o candidato que consegue atrair mais recursos. Dessa forma, não teríamos uma disputa de ideias, mas sim de poder econômico. O senhor concorda com essa tese?
Concordo sim, e o senso comum já nos leva a reflexão do que faz alguém, por exemplo, gastar dez milhões de reais para ter um mandato eletivo proporcional, com um grave efeito colateral que é a exclusão das vocações e a falta de rotatividade no exercício dos cargos públicos. Quantos são os detentores de mandatos eletivos que não detêm o poder econômico e/ou parentesco com alguém que exerce ou exerceu avida que deveria ser pública não só pelo exercício, mas pela possibilidade de acesso.

Por que é tão difícil fiscalizar as doações eleitorais? A prática do chamado "caixa dois", por exemplo, é extremamente corriqueira e chega a ser admitida, por muitos políticos, como algo "normal".
Infelizmente todo mundo sabe que a regra é que para se ter o apoio de uma liderança política, com ou sem mandato, é necessária uma negociação financeira que troca as ideias por interesses privados. Falta espírito público. Por exemplo, A vai apoiar o candidato B para disputar o cargo para o executivo pois ele tem vocação para a administração pública e não por quê está na frente nas pesquisas, e ao reverso o homem público aceitar o encargo de disputar determinado cargo, por ser o mais preparado, mesmo sabendo que o exercício do cargo atual é mais tranquilo. A Justiça Eleitoral tem evoluído muito na fiscalização dos gastos correntes das campanhas, marketing, honorários, comícios etc., sendo, porém, o câncer do processo de financiamento, o custo para se conseguir determinados apoios, com o efeito colateral de a origem dos recursos para tal custo ter de ser escuso. Sei que pode chocar um juiz eleitoral fazer tal constatação, mas o leitor doNominuto.com e os insignes advogados que honrosamente represento no TRE/RN não querem de mim respostas hipócritas. Penso que com um diagnóstico realista possamos buscar soluções efetivas para o tema do financiamento de campanha.

Como funciona o julgamento das contas eleitorais atualmente e por que esse processo é tão lento?
O processo não é lento, todas as contas dos políticos eleitos foram julgadas pelo TRE do RN antes da diplomação, conforme previsão no calendário legislativo e do TSE, através de resolução, o problema é que o Congresso Nacional legislou que a desaprovação das contas não tem nenhum efeito prático, ou seja, é o "crime" sem castigo, pelo menos de forma direta, só havendo punição pela via estreita do artigo 30-A da Lei das Eleições, ou seja, pela comprovação de utilização do chamado "caixa dois", ficando para o processo de prestação de contas, de "per si", um julgamento mais contábil.

Quais são as sanções previstas para o candidato ou partido cujas contas sejam reprovadas?
Para o candidato só há punição se não prestar contas, ficando daí inelegível pelo período do exercício do mandato, pela desaprovação não há consequência direta. Quanto aos partidos, em havendo a desaprovação das contas de campanha ou anual, aquela que vem do fundo partidário, ou seja, do dinheiro do contribuinte, ficam de um a doze meses sem poder receber o seu repasse.O sistema ainda é tão falho que, por exemplo, o presidente do PTB, Roberto Jeferson, ficou inelegível, ou seja, sem a cidadania plena, por oito anos, e exerce a presidência de um partido político sendo, por consequência, gestor de recursos e interesses públicos.

Como o sistema de declaração de contas de campanha pode ser aperfeiçoado?
Só acredito numa solução efetiva com uma ampla reforma política eeleitoral, voto em lista, financiamento exclusivamente público decampanha, democratização da vida partidária, modernização da lei orgânica dos partidos políticos e da Lei das Eleições, convocação de uma constituinte revisora exclusiva, com membros eleitos exclusivamente para esse fim, dando um ponto final nessa verdadeira colcha de retalhos que virou a legislação eleitoral, dentre outras medidas. Resumindo, legislar sobre o financiamento de campanha isoladamente, no meu entendimento, seria piorar a situação atual, dando mais descrédito para a classe política, pois se daria o dinheiro do contribuinte para financiar um sistema eleitoral falho. O que se poderia fazer de imediato, repito, seria aprovar o fim das doações de pessoas jurídicas, independentemente da natureza jurídica de suas constituições, a obrigatoriedade de na prestação de contas parciais serem divulgados os doadores além dos valores doados por cada um, o estabelecimento de um limite máximo para os gastos de campanha para cada cargo eletivo e a previsão da perda do mandato para os candidatos eleitos e cujas contas forem rejeitadas e a inelegibilidade por quatro anos, a contar da data do transito em julgado, para eles epara os derrotados na mesma situação.

A Comissão da Reforma Política do Senado aprovou, em abril, o projeto do senadorJoséSarney (PMDB-AP), presidente daquela Casa, que institui o financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais. Como funcionaria esse novo modelo?
Funcionaria com o fim da arrecadação com origem em empresas e pessoas físicas, ficando essa função para o poder público repassar para os partidos políticos e esses para a campanha de "per si", lembrando que a Comissão da Reforma Política do Senado da República prevê umconjunto de mudanças a balizar o financiamento público de campanha, como por exemplo o voto em lista, pois não se pode repassar os recursos públicos para pessoas físicas num sistema canibal como aatual eleição proporcional.

O relator do projeto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), é contra a matéria, argumentando que, ao proibir qualquer forma de financiamento privado, o projeto estaria contribuindo não para impedir, mas para esconder as relações dos partidos com entidades privadas e organizações da sociedade civil. Como o senhor vê essa objeção? 
Com todo respeito ao eminente senador, não concordo com ele, pois o que se quer não é esconder a relação dos partidos e candidatos com as empresas e demais pessoas jurídicas, é evitá-las, ou ao menos não torná-la condição sem a qual não se vence uma eleição, pois o único interesse que pode estar em "jogo" no processo político-eleitoral é o republicano, e a única defesa no exercício do cargo eletivo a domandante - o cidadão.

Com o financiamento público, não teríamos um atrelamento dos partidos em relação ao Estado?
Entendo que não, teríamos uma virada de foco dos partidos políticos para o Estado, o que entendo salutar, diferentemente do que há hoje, que é a defesa de determinados setores por força das doações. Não que se queira que políticos não defendam setores corporativos da sociedade civil organizada, mas que se o faça por questões ideológicas e sempre mantendo o foco para a República e sem esquecer quem é o mandatário do processo eleitoral, repito por necessário, o cidadão.

Não seria inconstitucional transferir dinheiro público para os partidos políticos, sendo estes, entidades de direito privado?
Entendo que não, pela natureza de suas constituições e de suas finalidades, absolutamente não econômicas. O que entendo inconstitucional é se isso se der de forma personalizada, ou seja, semo voto partidário, que o é o voto em lista e/ou o distrital, além do majoritário.

Em meio a tantos escândalos de corrupção, não soa estranho falar em financiarcampanhas políticas com dinheiro dos impostos dos brasileiros?
Soa sim, também por isso defendo a constituinte revisora exclusiva, no formato já exposto, para que possamos discutir a exaustão o tema no processo eletivo da escolha dos constituintes revisores e tirando dos diretamente interessados, os políticos com assento no Congresso Nacional, a primazia de uma reforma que pode não os interessar. Agora, o fim dos escândalos de corrupção é premente e para ontem, independentemente da reforma política e eleitoral, sendo está uma forma de se ajudar as instituições, como a Justiça Eleitoral, a inibir a corrupção, com o qual não há democracia efetiva e eficaz.

O contribuinte brasileiro, já bastante sobrecarregado pela elevada carga tributária do país, não seria ainda mais sobrecarregado? Ele estaria disposto a pagar esse ônus?
A carga tributária realmente é alta, e o que é pior, não compatível com a qualidade dos serviços públicos prestados, especialmente, saúde,educação, segurança, habitação, saneamento, diminuição das desigualdades regionais, erradicação da pobreza etc. Porém só acredito em uma reforma tributária e na melhoria efetiva dos serviços públicos, após a reforma política e eleitoral, pois se teria mandatários públicos sem pecados originais oriundos de um processo eleitoral com a participação forte de interesses privados, como há hoje.

Os defensores do financiamento público argumentam que o sistema reduziria o chamado "lobby" do poder econômico sobre os partidos e, consequentemente, na atuação dos eleitos. Qual sua avaliação sobre esse ponto?
Concordo plenamente. Não que deixará de existir o "lobby", que aliásprecisa também ser discutido abertamente, sem se fazer de conta que ele não existe, mas sem ter o lobista a conta da campanha passada e a perspectiva da próxima como argumento de convencimento.

A proibição da doação de recursos financeiros de pessoas jurídicas ou de grandes empresas seria o caminho para democratizar mais o acesso ao mandato popular?
Seria um dos pilares para a democratização do acesso aos mandatos eletivos, sendo ainda necessária a igualdade de condições de demonstração de ideias entre os detentores e não detentores de mandatos, para que se evite o que há hoje, a repetição dos candidatos, até os derrotados são os mesmos, somente com a mudança de cargos e/ou a troca do detentor do sobrenome dos eleitos. Não dá para falar em financiamento de campanha sem ser em um contexto amplo, ou seja, sem estar no bojo de uma ampla e profunda reforma política e eleitoral. 

Fonte: Portal Nominuto em 17.07.2011 às 15:35h

sexta-feira, 15 de julho de 2011

“Nós educamos os filhos para que eles usem drogas”

Uma pergunta que nunca sai – ou ao menos nunca deveria sair – da cabeça de pais e professores é “como educar as crianças de verdade?”. Autor de livros como “Adolescentes: quem ama educa!” e “Disciplina: Limite na Medida Certa” (ambos da Editora Integrare), o psiquiatra Içami Tiba responde esta e outras questões relacionadas à educação em seu novo livro, “Pais e Educadores de Alta Performance” (Editora Integrare). Com 43 anos de experiência em consultório, Içami alerta os pais para os perigos da cultura do prazer. “Nós educamos os filhos para que eles usem drogas”, comenta, avaliando a atitude de pais que oferecem tudo sem exigir responsabilidade em troca. Para ele, a família é a principal responsável pela formação dos valores e não deve jogar esse papel para a escola. Mas as escolas, por terem um programa educacional organizado, podem guiar os pais. Leia a entrevista com o autor. 

iG: Qual a responsabilidade dos pais e qual a dos educadores na educação das crianças? 
Içami Tiba: A família continua sendo a principal responsável pela educação de valores, mas é importante que haja uma parceria na educação pedagógica. As crianças viraram batatas quentes: os pais as jogam na mão dos professores, os professores devolvem. Pais precisam ser parceiros dos professores. Quem tem que liderar a parceria, no começo, é a escola, pois tem um programa mais organizado. Com a parceria, ambos ficam fortes. Os pais ficam mais fortes quando orientados pela escola.

iG: O que é mais importante na educação de uma criança?
Içami Tiba: É exigir que ela faça o que é necessário. Os pais dão tudo e depois castigam os filhos porque estes fazem coisas erradas. Mas não é culpa dos filhos. Afinal, eles não querem estudar porque estudar é uma coisa chata, mas alguma vez ele fez algo que é chato em casa? No final, a criança estica na escola aquilo que aprendeu em casa. A educação é um projeto de formar uma pessoa com independência financeira, autonomia comportamental e responsabilidade social.

iG: Como os pais podem educar bem seus filhos? Qual o segredo?
Içami Tiba: Um pai de verdade é aquele que aplica em casa a cidadania familiar. Ou seja, ninguém em casa pode fazer aquilo que não se pode fazer na sociedade. Os pais devem começar a fazer em casa o que se faz fora dela. E, para aprender, as crianças precisam fazer, não adianta só ouvir. Elas estão cansadas de ouvir. Muitas vezes nem prestam atenção na hora da bronca, não há educação nesse momento. É preciso impor a obrigação de que o filho faça, isso cria a noção de que ele tem que participar da vida comunitária chamada família.

iG: No livro, o senhor comenta que uma das frases mais prejudiciais para se falar para um adolescente é o “faça o que te dá prazer”. Por quê?
Içami Tiba: O problema é que essa frase passa apenas o critério de prazer e não o de responsabilidade. Nós queremos que nossos filhos tenham prazer sem responsabilidade. Por isso eles são irresponsáveis na busca deste prazer. E o que é uma droga, senão uma maneira fácil de se ganhar prazer? A pessoa não precisa fazer nada, apenas ingeri-la. Nós educamos os filhos para que eles usem drogas. Se ele tiver que preservar a saúde dele, pensa duas vezes.

iG: Por que você acha que alguns pais não ensinam os filhos a ter responsabilidade?
Içami Tiba: Não ensinam porque não aprenderam. Estes pais querem ser amigos dos filhos e isso não faz sentido. Provedor não é amigo.

iG: Por que o pai não pode ser só amigo ou só provedor?
Içami Tiba: Não pode ser amigo porque pai não é uma função que se escolhe, e amigos você pode escolher. O filho é filho do pai e tem que honrar os compromissos estabelecidos com ele. Um filho não pode trocar de pai assim como troca de amigo, por exemplo. Por outro lado, o pai que é unicamente provedor, como eram os de antigamente, também não dá uma educação saudável ao filho, afinal ele apenas dá e não cobra. Pai não pode dar tudo e não controlar a vida do filho. Quando digo controle, quero dizer que o pai deve fazer com que o filho corresponda às expectativas, que o filho faça o que precisa ser feito. Um filho não pode deixar de escovar os dentes ou de estudar e o pai não pode deixar isso passar.

iG: Como a meritocracia pode ajudar na criação?
Içami Tiba: O mundo é meritocrata, os pais se esqueceram disso. Ganha-se destaque por alguma coisa que a pessoa fez; se não mereceu, logo o destaque se perde. Dar a mesma coisa para o filho que acertou e para o que errou não é bom para nenhum dos dois. É preciso ser justo. Os pais precisam aprender a educar, não dá para continuar achando que apenas porque são bonzinhos vão ser bons pais. Não adianta muito um cirurgião apenas amar seu paciente; para fazer uma boa cirurgia é preciso ter técnica. É a mesma coisa com os pais.

iG: Amor e educação combinam com disciplina?
Içami Tiba: Disciplina é a coisa que mais combina com a educação. É uma competência que você desenvolve para atingir o objetivo que quer. Se você ama alguém, tem que ter disciplina. Os pais precisam fazer com que os filhos entendam que eles têm que cumprir sua parte para usufruir o amor. Os pais precisam exigir.

iG: Como exigir sem agressividade?
Içami Tiba: O exigir é muito mais acompanhar os limites, aquilo que o filho é capaz de fazer. Não dá para exigir que ele vá pendurar roupas no armário se ele não pode arrumar uma gaveta. Por outro lado, os pais não podem fazer pelos filhos o que eles são capazes de fazer sozinhos. A partir daí, quando se cria uma segurança, a exigência começa a fazer parte da convivência. Essa exigência é boa. O pai não pode sustentar e não receber um retorno. É como se ele comprasse uma mercadoria e não a recebesse. 

iG: No livro, o senhor diz que todos somos educadores. Como podemos nos portar para educar direito as outras pessoas? 
Içami Tiba: Você quer educar? Seja educado. E ser educado não é falar “licença” e “obrigado”.Ser educado é ser ético, progressivo, competente e feliz. 

Fonte: Portal IG em 14.07.2011 às 07:35h

quarta-feira, 29 de junho de 2011

União e casamento: Há diferenças?

Érica e Karla vivem em união estável e
vão buscar o direito de casar
Comemorações de um lado. Protestos de outro. Sentimentos de reconhecimento e também de indignação. Preconceito, respeito e muita discussão jurídica. Toda essa confusão antagônica resume bem a polêmica em torno da união homossexual, que ganha novo capítulo: o primeiro casamento gay do Brasil. A conversão do contrato de união estável em casamento civil homossexual foi realizado na última segunda-feira, dia 27, em Jacareí, São Paulo, 42 dias após o Supremo Tribunal Federal reconhecer a união entre casais do mesmo sexo. A decisão do STF, de 5 de maio, não regulamenta o casamento homoafetivo, ou seja, em cartório, só é permitido a escritura de reconhecimento de união estável, que estende os direitos de casais heteros aos de mesmo sexo. 

E foi seguindo esse príncipio, fundamentado no mesmo julgamento do STF, que a Justiça de São Paulo converteu a união entre o cabeleireiro Sérgio Kauffman Sousa e o comerciante Luiz André Moresi em casamento. E para quem não sabe a diferença, a tabeliã substituta do 2º Ofício de Notas de Natal Karina Olímpio explica que para celebrar o contrato de união estável, de acordo com a Constituição Federal, são necessárias quatro condições: que a união seja duradoura, pública, contínua e que tenha objetivo de constituir família. A possibilidade de escolha do regime de bens e a mudança de nome é restrito ao casamento. No tocante a forma, a união estável não exige uma cerimônia, enquanto o casamento civil pede a participação de testemunhas e de um juiz de paz. O casamento, por questão legal, só pode ser entre pessoas de sexo oposto. "A legislação vigente não permite que a união homoafetiva seja convertida em casamento", diz Karina Olimpio. 

No Estado, a Corregedoria Geral de Justiça expediu, em 16 de junho, recomendação sobre a escrituração da união estável homoafetiva (link no fim do texto). Nesse sentido, a tabeliã frisa que "o tabelião sempre exerce uma função pública delegada pelo Estado e não possui a autonomia de praticar os atos a partir de seu entendimento, mas apenas aqueles que estão de acordo com a legalidade". Apesar de não haver dados reais sobre a demanda, as situações mais comuns em cartório é de escritura publica de declaração de união estável homoafetiva. Para isso é necessário apresentar documento de identidade, CPF, certidão de nascimento ou de casamento quando averbada a separação judicial ou divórcio, certidão de propriedade de bens móveis e imóveis. O custo é fixo no valor de R$ 265,31. 

Com o reconhecimento enquanto entidade familiar, o presidente do Grupo Afirmação Homossexual Potiguar GAHP/RN José Dantas de Oliveira Filho, diz não ser mais necessário recorrer a justiça, o que põs fim ao serviço de assessoria jurídica prestado pela organização. "Antes se dependia da boa vontade e bom senso do juiz. Eram cidadãos que não tinham sua diginidade humana respeitada. Hoje todos tem que cumprir", disse. Apesar da vitória, afirma Dantas, a batalha continua. "Nossa maior luta hoje é pela criminalização da homofobia. O STF não é legislador, mas é executador ainda temos um congresso muito conservador e não consegue ser laico, que se baseia em dogmas religiosos e não tem cumprindo seu papel de legislar", disse. 

"Casamento, sim, mas sem vestido, véu e grinalda" 
O casamento continua sendo o sonho da maioria das mulheres, e ainda mais entre as de mesmo sexo. É assim, entre as funcionárias públicas Erica Maia, 34 anos, e Karla Costa, de 40 anos, que há quatro anos vivem uma união estável e, após a decisão do STF, planeja buscar o cartório para legalizar o contrato e, em breve, até casar. "Pretendemos casar, sim, mas sem essa coisa de vestido branco, véu e grinalda", disse Erica, que é presidente do Fórum LGBT Potiguar.  À época que conseguiram na Justiça o direito à união para inclusão como beneficiada no plano de saúde, o casal lembra que apenas um cartório em Natal consentia o registro. "Estamos aguardando que os cartórios se capacitem. Mesmo com a decisão, ainda há o receio que a cada pedido, ocorra um briga judicial", disse. 

A mudança na lei não altera o preconceito, que culminou na demissão, sem justa causa, da empresa em que trabalhava. Hábitos como andar de mãos dadas também foram abolidos pelo casal. "Nossa luta é pela criminalização da homofobia", afirma Karla Costa. Em Natal, o medo da violência gerada pela homofobia - que nos últimos 20 dias registrou cinco assassinatos envolvendo travestis - impediu que o ato público, planejado para ontem chegasse às ruas. "É o efeito Dilma. O veto ao Projeto de Lei 122/2006 deu a eles (homofóbico o direito de me agredir? É um retrocesso", disse Jaqueline Brasil, presidente da Associação das Travestis reencontrando a vida (Atrevida).

Bate-papo
Cláudio Santos » Desembargador e corregedor do TJ/RN

Antes da decisão do STF, os casais homossexuais tinham alguma forma de serem considerados família?
Forma legal, não. A decisão do Supremo Tribunal Federal é uma decisão tomada em uma Ação Direta de Inconstitucionalidade e interpretou a constituição, estendendo a pessoas do mesmo sexo, que conviviam em união estável, os mesmos direitos da união estável entre homem e mulher. 

Então, hoje os casais homossexuais em uma união estável possuem os mesmos direitos dos casais heterossexuais?
Mesmos direitos e deveres. A decisão do Supremo se baseou nos princípios constitucionais do direito à liberdade, da não discriminação de sexo, do direito à dignidade da pessoa humana e em um princípio implícito bastante interessante, que é o direito do cidadão à busca da felicidade. E me pareceu um suporte constitucional bastante interessante, esse princípio constitucional não escrito, mas que segundo o Supremo está implícito na Constituição, que é o direito à busca da felicidade.

Um juiz em Goiânia disse ter se baseado exatamente na Constituição para rejeitar a decisão do STF e negar a união homoafetiva. Como o senhor vê esse posicionamento?
Acho que, naturalmente, o juiz não pode envolver as suas crenças religiosas no ato de julgar, até porque a própria Constituição da República diz que o Estado é laico e, como tal, não poderia um juiz, que é instrumento do Estado, jogar em uma decisão dessa um entendimento personalístico, fundado em uma preferência por determinada opção religiosa. 

Os casais homossexuais em união possuem vários direitos?
Quando em união estável, que equivale ao direito do casamento. 

E a Corregedoria já orientou os cartórios a como agir?
A providência da Corregedoria em normatizar a forma como os cartórios do Estado devem agir na escrituração da união estável homoafetiva (datada de 16 de junho) é uma das primeiras do Brasil, salvo engano a primeira.

E para isso o que é necessário?
Basta comparecer perante o oficial, o escrivão, levando as documentações pessoais e de imóveis, móveis, enfim, todos os documentos que representem situações econômicas, financeiras e sociais que os interessados desejam disciplinar perante a lei, perante o Estado, perante o poder público.

Por si só, a decisão do STF já é suficiente para ser aplicada?
Já é suficiente e esse provimento já é suficiente também para que todos disciplinem a questão. Porque, por exemplo, se duas pessoas do mesmo sexo vivem em uma união estável hoje e isso não está disciplinado, se amanhã um dos dois morre, de quem são os bens? Do parceiro, dos filhos, do pai, da mãe, como é que fica?

E tem havido alguma resistência por parte dos cartórios?
Não, e o cartório não pode se recusar, sob pena de sofrer penalidades por parte da própria Corregedoria. Acredito que não vá haver nenhum problema no Rio Grande do Norte. Talvez uma falta ou outra de esclarecimento, que tanto os juízes, quanto a própria Corregedoria está pronta para aclarar. 

Clique AQUI e confira na íntegra do Provimento nº 074/2011, expedido em 16.06.2011 pela Corregedoria Geral de Justiça do TJRN que dispões sobre a escrituração da união estável homoafetiva nos cartórios extra-judiciais do RN. 

Fonte: Tribuna do Norte às 00:00h

sábado, 14 de maio de 2011

“O aluno não vai para a escola para aprender ‘nós pega o peixe’”

Para o gramático Evanildo Bechara, autor da Moderna Gramática Portuguesa, o aluno não vai para a escola “para viver na mesmice” e continuar falando a “língua familiar, a língua do contexto doméstico”. “Sempre se vai para a escola para se ascender a posição melhor. A própria palavra educar, que é formada pelo prefixo latino edu, quer dizer conduzir. O papel da educação é justamente tirar a pessoa do ambiente estreito em que vive para alcançar uma situação melhor na sociedade”.

Evanildo Bechara, gramático e ocupante da cadeira 33 da ABL
Em entrevista ao iG, Bechara, que ocupa a cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras e é autoridade máxima no Brasil quando o assunto é novo acordo ortográfico, afirma que a proposta do livro didático de português que dedica um capítulo ao uso popular da língua Por uma vida melhor, da coleção Viver, Aprender, adotado pelo Ministério da Educação (MEC) para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), está perfeita do ponto de vista do técnico. Mas do ponto de vista do professor de português, segundo ele, é como se dissesse: “eu vou ensinar o que é correto, mas se você quiser continuar usando o menos correto, você pode continuar”. Segundo Bechara, neste caso, está se tirando do aluno o que ele considera o elemento fundamental na educação: o interesse para aprender mais. Mas, para o acadêmico, o sucesso da sala de aula não depende do livro adotado. Depende da técnica e do preparo do professor.

O livro didático de língua portuguesa Por uma vida melhor, da coleção Viver, Aprender, adotado pelo Ministério da Educação (MEC), dedica um capítulo ao uso popular da língua. Qual é a opinião do senhor? 
Evanildo Bechara: Em primeiro lugar, o aluno não vai para a escola para aprender “nós pega o peixe”. Isso ele já diz de casa, já é aquilo que nós chamamos de língua familiar, a língua do contexto doméstico. O grande problema é uma confusão que se faz, e que o livro também faz, entre a tarefa de um cientista, de um linguista e a tarefa de um professor de português. Um linguista estuda com o mesmo interesse e cuidado todas as manifestações linguísticas de todas as variantes de uma língua. A tarefa do linguista é examinar a língua sem se preocupar com o tipo de variedade, se é variedade regional, se variedade familiar, se é variedade culta. Ele estuda a língua como a língua se apresenta. Já o professor de português, não. O professor de português tem outra tarefa. Se o aluno vem para a escola, é porque ele pretende uma ascensão social. Se ele pretende essa ascensão social, ele precisa levar nessa ascensão um novo tipo de variante. Não é uma variante que seja melhor, nem pior. Mas é a variante que lhe vai ser exigida neste momento de ascensão social.

iG: Para o MEC, o papel da escola não é só ensinar a forma culta da língua, mas também o de combate ao preconceito contra os alunos que falam “errado”. Como o senhor avalia essa orientação?
Evanildo Bechara: Ninguém vai para a escola para viver na mesmice. Eu chamaria de mesmice idiomática. O aluno vai para a escola, mas acaba saindo dela com a mesma língua com a qual entrou. Portanto, perdeu seu tempo. Na verdade, sempre se vai para a escola para se ascender numa posição melhor. A própria palavra educar, que é formada pelo prefixo latino edu, quer dizer conduzir. Então, o papel da educação é justamente tirar a pessoa do ambiente estreito em que vive para alcançar uma situação melhor na sociedade. Essa ascensão social não vai exigir só um novo padrão de língua, vai exigir também um novo padrão de comportamento social. Essa mudança não é só na língua. Portanto, não é um problema de preconceito. E, para esses livros, parece que o preconceito é uma atitude de mão única. Mas o preconceito não é só da classe culta para a classe inculta, mas também da classe inculta para a classe culta.

iG: Segundo a autora do livro, Heloísa Ramos, a proposta da obra é que se aceite dentro da sala de aula todo tipo de linguagem, ao invés de reprimir aqueles que usam a linguagem popular... 
Evanildo Bechara: Acho que do ponto de vista do técnico em língua, está perfeito. Mas do ponto de vista do professor de português, é como se você dissesse “eu vou ensinar o que é correto, mas se você quiser continuar usando o menos correto, você pode continuar”. Então, qual estímulo você dá a esse aluno para ele ascender socialmente? Você está tirando dele o elemento fundamental que funciona na educação: que é o interesse para aprender mais.

iG: Ao defender o uso do livro didático com linguagem popular, o senhor acredita que seria função do MEC preparar o professor para usar esse material?
Evanildo Bechara: Eu acho que não é função do MEC preparar o professor. A função do MEC é dar as condições necessárias para o bom desempenho do professor. E o bom desempenho do professor começa com um bom salário. A função do Ministério não é uma função pedagógica. A função pedagógica é das instituições universitárias, das faculdades de pedagogia, das faculdades de letras. O que o Ministério faz, com muita justiça, é distribuir livros. Mas ele não tem que tomar conta do preparo do professor. O professor tem que ser preparado pelas instituições adequadas. O ministério faz bem em comprar bons livros e distribuí-los para as escolas. Isso é uma coisa perfeitamente digna de elogio. Mas modelar o professor e, por exemplo, comprar livros que falem muito bem de um governante e muito mal de outro governante, num enfoque político dirigido, isso já não é tarefa do Ministério da Educação.

iG: O senhor vê algum problema na utilização desse livro em sala de aula?
Evanildo Bechara: Eu não vejo problema pelo seguinte: porque o sucesso da sala de aula não depende do livro adotado. Depende da técnica e do preparo do professor. Um bom professor pode trabalhar muito bem com um mau livro, assim como um professor sem preparo não consegue tirar tudo de bom do aluno com um bom livro. Porque ele está mal preparado e não sabe aproveitar o livro. O sucesso da sala de aula não depende do livro adotado. Mesmo porque o bom professor não é aquele que ensina. O bom professor é aquele que desperta no aluno o gosto pelo aprender. A sala de aula, o período de escola do aluno, é um período muito pequeno para o universo de informações que ele deve ter para ter sucesso na vida. Pelo menos teoricamente. No meu tempo de aluno, nós tínhamos apenas dois livros: durante quatro, cinco anos, tínhamos a mesma antologia e a mesma gramática. Mas, embora os professores não tivessem tirado o proveito das universidades, eles levavam para a escola uma cultura geral muito boa. E era essa cultura geral do professor de matemática, de física, de química, de português, era o grande atrativo para o aluno. Mas o professor que se limita ao programa estabelecido pelo livro didático, é um professor que é conduzido, é um professor que não tem conhecimento suficiente para sair dos trilhos oferecidos pelo livro didático. 

Fonte: Portal IG