segunda-feira, 16 de maio de 2011

16 de maio - Dia do Gari

Estudos realizados com os coletores de lixo ou garis apontam para importância do trabalho desses profissionais tanto para a saúde e bem estar da sociedade civil, como para as questões de saneamento básico de uma cidade e o embelezamento da mesma. Mas também sabemos, o quanto essa classe de trabalhadores é desvalorizada, realizam suas atividades de trabalho de uma forma árdua, sujeitos a todos os tipos de intempéries climáticas, com mínimas condições de trabalho, expostos constantemente aos mais variados tipos riscos e preconceitos (SANTOS, 1999). Os coletores de lixo ou Gari, ou ainda vulgarmente conhecidos como “lixeiros”, são os profissionais responsáveis pelo recolhimento de lixo acumulado em logradouros públicos e outros locais, despejando-os em veículos e depósitos apropriados, a fim de contribuir para a limpeza destes locais. (Classificação Brasileira de Ocupações – CBO, 1982). Porém, em nosso estudo iremos utilizar terminação Gari, para denominar não só os coletores de lixo domiciliar/industrial, mas também os responsáveis pela varrição das vias e praças públicas (setor da varrição), pela capina das ruas, por podar árvores ornamentais, realizar trabalhos de jardinagem, manter terrenos e passeios de propriedade do Patrimônio Público Municipal, cultivar canteiros de praças e jardins públicos (setor da capina); selecionar o lixo no depósito de reciclagem (usina de reciclagem), retirar animais abandonados das ruas e mantê-los sob cuidados no canil (setor do canil).

Os Garis estão sujeitos a altos riscos de acidentes de trabalho e a uma alta carga de trabalho que exige desses profissionais grandes esforços físicos e mentais, trazendo desse modo, danos a sua saúde e a um baixo rendimento no trabalho, conforme mostra a revisão bibliográfica exposta a seguir. Em um estudo realizado por Madruga (2002), sobre as cargas de trabalho encontradas nos coletores de lixo, constatou-se que esses trabalhadores estão expostos a uma carga psíquica constante relacionada a uma atenção permanente exigida nas tarefas, a insegurança, a falta de perspectiva, um ritmo diário de trabalho que se torna desgastante, a falta de reconhecimento, falta de valorização, irritação em relação ao ruído constante, assim como desgastes físicos e emocionais, devido a exposição ao perigo e exigência da responsabilidade na tarefa. Santos (1994) sobre condições de saúde e trabalho dos coletores de lixo da cidade de São Paulo assinalou que no sistema de coleta de lixo existem condições inadequadas e insalubres, exposição a acidentes de trabalho, e que havia, também, pontos positivos, como a questão da liberdade, do coleguismo e da antecipação da jornada diária de trabalho, daí a ambigüidade, ou seja, parte do principio de que esta atividade pode ser fonte, tanto de prazer quanto de sofrimento.

No estudo de Santos (1994) os coletores apontaram dez grandes distúrbios aos quais estão sujeitos: problemas de pele, problema auditivo, problemas no trato urinário ou de necessidades, leptospirose, tétano, Aids, problemas respiratórios ou pulmonares, problemas nos músculos esqueléticos, nervosismo e preocupação e distúrbios no aparelho digestivo. Os problemas de nervosismo e preocupação estão relacionados a problemas de cabeça, dores estomacais, dores de cabeça, pressão alta e são associados ao ritmo de trabalho, a pressão das empresas, as precárias condições de vida e principalmente ao estar trabalhando e estar desempregado. Relacionam muitas de suas doenças a “ansiedade” que sentem em algumas situações, como o medo do desemprego. Diante dessas informações podemos verificar os vários tipos de tensões, esforços, desgastes físicos e psicológicos oriundos da profissão de gari. Os dados oferecidos por essa revisão bibliográfica nos fazem pensar na possibilidade de existir nessa profissão consideráveis níveis de stress. 

História da Limpeza Urbana
Os povos da Antiguidade, enquanto viveram como nômades, não tiveram problemas de canalização de água, instalação de rede de esgoto e remoção de lixo. Roma, cidade fundada em 753 A.C., era dotada de serviço de esgoto e tinha a melhor rede de estradas da época, mas não dispunha de nenhum serviço de limpeza pública. Os romanos costumavam atirar seu lixo em qualquer lugar e já naquela época, os governantes colocavam placas com as inscrições "não jogue lixo aqui". Em Londres, um edital de 1354 publicado na capital, dizia que o lixo deveria ser removido da frente das casas uma vez por semana. Embora várias leis zelassem pelo recolhimento do lixo, o método mais comum na época era a população jogá-lo nos rios.

No ano de 1407, os londrinos foram instruídos a guardar o lixo dentro de casa até ser levado pelo coletor. Esta forma de recolhimento durou cinco séculos sem mudanças. As autoridades, contudo, encontraram dificuldades em manter os regulamentos. Até mesmo o pai de Shakespeare foi punido, flagrado jogando lixo na rua em 1551. As campanhas de limpeza pública não eram novidade em Paris. Os parisienses, ignorando os apelos governamentais, continuaram a jogar lixo nas ruas. Entre 1506 e 1608, Paris ficou conhecida como a cidade mais suja da Europa. Este problema só começou a ser superado a partir de 1919, quando 300 veículos circulavam na cidade para fazer a coleta. O uso obrigatório da lata de lixo, instituído pelo prefeito Poubelle, levou os franceses a adotarem o nome "poubelle" para as cestas coletoras.

Viena é até hoje conhecida como a cidade mais limpa da Europa, título conquistado desde a época do Império Austro-Húngaro. Por volta de 1340 em Boemia, na antiga Tchecoslováquia, já se estudava a melhor maneira de se limpar uma cidade. Cada cidade, cada país, ao longo da sua história, se defrontou com a problemática do lixo. Cada qual deu sua solução para o problema, de acordo com seu desenvolvimento tecnológico, seus recursos econômicos e a vontade de resolver a questão. No Brasil, aos olhos do Governador Mem de Sá, edificar a cidade em região aquosa, era um problema quase insolúvel que demandava gasto de muito dinheiro, tempo e engenharia. 

No Rio do século XVI, dinheiro não se contava em notas de papel, mas em barras de melaço, a forma pela qual a cana de açúcar era beneficiada e exportada para a Europa. Foi exatamente nesta conjuntura, em que predominou o espírito mercantilista - o mínimo de investimento para o máximo de lucro - que o Rio de Janeiro começou a se formar como cidade. Edificada sem método e crescendo ao sabor das circunstâncias, sejam de ordem econômica ou outra ordem do momento, a cidade do Rio se desenvolveu sem preocupações que fossem além do futuro imediato. Em 1760, a cidade chegava aos 30 mil habitantes. Nesta época, atirava-se lixo por todas as partes. Aqueles residentes próximos ao mar o jogavam na praia e os moradores vizinhos às lagoas, pântanos, ou rios, ali mesmo faziam seus despejos. E assim cresceu o Rio, num quadro sanitário e de higiene que prenunciava uma crise. A manter-se a defasagem entre o ritmo de crescimento da população, da cidade e da melhoria de sua condição higiênico-sanitária, o século XIX iria assistir trágicas consequências desta crise.

Estruturação dos Serviços de Limpeza
A primeira postura da Câmara Municipal referente à limpeza, data de 1830, e curiosamente versava sobre: "limpeza, desempachamento das ruas e praças, providências contra a divagação de loucos, embriagados e animais ferozes e os que podiam incomodar o público". Estas posturas eram basicamente normativas, isto é, definem proibições e estabelecem sanções quanto ao despejo de lixo nas vias públicas. No entanto, mesmo algumas dessas posturas já se traduzem num arremedo do que seriam os serviços de limpeza pública no futuro. Vários outros projetos e tentativas no que tange à limpeza da cidade pedindo concessões são apresentados à Câmara, a maioria deles indeferidos. Aqueles que não foram indeferidos acabaram antes de começar.

Aleixo Gary: Uma Revolução na Limpeza Urbana
Uma discreta notícia inserta na Gazeta de Notícias de 11 de outubro de 1876, sobre o novo contratante da limpeza urbana da cidade, deixa antever importantes mudanças na administração e execução do serviço de limpeza urbana. Aleixo Gary, francês de origem, inaugurava uma nova era na história da limpeza pública no Rio, apoiado principalmente em sua eficiência de trabalho. Em 1885, o governo resolve contratar, provisoriamente, Aleixo Gary para o serviço de limpeza das praias e remoção do lixo da cidade para Ilha de Sapucaia, localizada no bairro chamado Caju. Aproveitando-se das circunstâncias, Gary tentou, com uma proposta, concentrar todo o conjunto de atividades da limpeza - logradouros, remoção do lixo das casas particulares, praias e transporte do lixo para Sapucaia - em suas mãos, isto é, monopolizar o setor. Mas, sua proposta não teve sucesso, sendo recusada pelo governo. Gary no entanto, se mantém como responsável pelo serviço de limpeza na cidade e remoção de lixo para Sapucaia até 1891, data do témino do seu contrato. Nesse mesmo ano, Aleixo Gary se afasta da empresa deixando seu parente, Luciano Gary. No ano seguinte, porém a empresa parece ter sido extinta, pois em documento de 1892, o Ministério da Justiça se dirige ao Prefeito requisitando "O pagamento a Aleixo Gary e Cia de 232.238 contos de réis pelo qual o governo adquiriu o material de extinta empresa de limpeza".

Cria-se a Superintendência de Limpeza Pública e Particular da Cidade. Gary deixara marca na história da limpeza urbana pública no Rio de Janeiro. Tão forte foi a atuação desse empresário que os empregados encarregados pela limpeza, os lixeiros, passaram a ser chamados de "garis". Os serviços desta superintendência, no entanto, deixam a desejar. Os problemas se agravam e em 1897, a Prefeitura resolve contratar novamente serviços particulares, que por sua vez, não conseguiram cumprir com os seus contratos, o que faz então a prefeitura em 1899 retomar seus serviços de limpeza da cidade. Em 1904, a prefeitura compra o terreno da Rua Major Ávila, nº 358, na Tijuca, onde se localiza a sede da Comlurb. Em 1906, o serviço de limpeza urbana dispunha de 1084 animais, já insuficientes para a limpeza da cidade que produzia 560 toneladas de lixo. É assim que, a título de experiência, são adquiridos dois auto-caminhões. Seria o início da passagem do uso animal para o uso mecânico na coleta.

Um comentário:

  1. Parabéns a todos os Garis e, em especial, aos Garis da nossa querida Santo Antônio.

    Quero aproveitar e deixar uma pequena denúncia. Os garis de nossa cidade não têm equipamentos de proteção e segurança individual, os EPI's. Recentemente, em frente a Prefeitura, presenciei um gari apanhando lixo, com as mãos, sem luvas. Não era negligência do gari pois os outros (uns 3) que estavam com ele também não usavam luvas.

    Gestores municipais, trabalhadores terceirizados também são gente. Nãos os tratem como lixo.

    Apesar de serem terceirizados, vocês também são culpados por esse descaso. Têm que cobrar da empresa prestadora de serviço o mínimo de segurança para eles. Vereadores, parem de fazer requerimentos de lombadas e observem os direitos dos trabalhadores serem jogados no lixo.

    O mínimo: luvas, bonés, uniformes, botas, óculos, máscaras, entre outros.

    Sejam mais humanos. Quando vocês de pele sensível vão à praia querem usar protetor solar. Os garis trabalham a vida toda sob o sol e não têm direito a essa regalia.

    Mas é assim mesmo. Quando se tem ga$to é melhor nem inovar.

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